Pular para o conteúdo principal

Postagens

Como Foi Que o Tempo de Tânia ficou Paralisado Em 1960, crônica de Ignácio de Loyola Brandão

     Era um samba-canção interpretado em todas as boates, em cada piano-bar da noite. O disco vendia como água. A todo momento, passando pelas lojas de discos eu ouvia: Diga que já não me quer, Negue que me pertenceu, Que eu mostro a boca molhada, Ainda marcada pelo beijo seu.*      Aquele refrão ficava em minha cabeça. Tocava no apartamento de Tania mulher, que morava na praça Marechal Deodoro e que me ligava para levá-la às estreias dos filmes. Havia muitas estreias naquele começo de década de 1960, e eu, crítico de cinema, tinha convite para todas. Não sei como Tania descobria, devia ler no jornal. Ela me ligava:      - Amanhã tem estreia. Vamos?      - Vamos.      Ia buscá-la de táxi. depois do cinema, ela insistia em jantar no Gigetto, então restaurante badalado; Tania gostava de ver arristas, queria que eu apresentasse. Quando eu subia até o apartamento dela, ouvia aquela canção: Diga que meu pranto é covar...
Postagens recentes

10 Melhores Capas de Livro de 2025 ( Pelo Prêmio Jabuti)

  Capistas: Jean Sartief - Vitor César Júnior Capistas: Alexandre Gama - Lívia de Castro Capistas: Rafael Campos - Eliane Ramos Capistas: Daneil Justi - Amanda Chagas Capistas: Kiko Farkas - Gustavo Piqueira Fonte:listasliterarias.com

Dias Idos e Não Vividos, conto de Gilvan Lemos

     A estrada de rodagem findava no silêncio. Estreita na terra pura, nua, ao chegar à curva parecia que o mato a havia engolido. Nas partes fofas, de areia, as marcas dos pneus do caminhão do leite; nas duras, onde sempre entremostrava-se um lombo cinzento de pedra, a solidão faiscante do sol, a presença firme do sol, a expectativa de uma coisa que indistintamente ia acontecer e que nunca acontecia.      O zumbido da desnatadeira manual, a força humana regrada pelo ritmo impositivo da máquina, a fadiga dum braço transmitida ao outro, a conformação refletida no olhar esmorecido, a contabilidade mental do volume de leite a ser desnatado ainda.      — Eu tinha uns quinze anos, mais ou menos.      Espaçadamente, os fornecedores diários. Modestos, pequenos produtores. E o leite. Em latas na cabeça, em alimárias, parte da carga contrapesada com mochilas de milho, feijão, pedra, mamona. Murmúrios de vozes mal acordadas, zurrar metód...

Vamos Pensar? (31)

 

Figuras do Vento, poema de Joaquim Cardozo

                                                                                                       "Figure porte adsence et présence..." Pascal Figuras do vento Nos ares divinos São finos cabelos Na luz. Movimento De puras miragens, imagens, modelos De formas vazias; São asas difusas, São vôos imensos, Perdidos no espaço Por noites e dias. São ventos profanos Rompendo,mugindo, Lavrando no mar; Sào ventos lavrando, São bois de charrua, São gênios que ceifam Searas na lua E animam sementes Que irão germinar. São ventos feridos, São ventos antigos, Saudade de amigos, Lembranças, rumores; São ventos irados De pele gelada Batendo em meu rosto, Marchando em rajada, Rufando tambores. São ventos, são vozes, São queixas veladas Nos vale...

Circo de Coelhinhos, conto de Marques Rebelo

     Isabel, Beatriz dos olhos cor de mel, e Loló e Silvino, na farândola infantil dos meu amores,dançaram com Dodô e dois coelhos.      Sim, dois coelhos. Chegaram numa cesta de tampa em certo domingo morno de novembro, quando na casa de tia Bizuca, onde eu morava e que era o Andaraí, apontavam os ramos do pomar os primeiros sapotis inchados.      São de raça - disse seu Manuel, chacareiro, valorizando o presente que me trazia - Angorás legítimos - mostrava, suspendendo-os pelas orelhas, que ao meu protesto por tamanha barbaridade foi explicado ser o processo usual e correto de se pegar coelhos.      Angorás, ou não, jamais houve coelhos tão queridos, lindos que eu os achava, brancos, peludos, olhos vermelhos, orelhas róseas - dois amores.      Minha vida até aí era um suceder de brinquedos e mais brinquedos, pique, cabra-cega, traquinadas na chácara que subia até o morro, barulhentas correrias nas salas vazias ...

Maneco, poema de Marcelo Valença

Sempre que chove Manequinho floreia Verde branco e lilás Manequinho incendeia Como ninguém é capaz Sempre que chove Por toda parte Manequinho clareia Vívido e audaz Manequinho sereia Como ninguém é capaz Por toda parte Sem nenhum alarde Manequinho alheia Lívido e em paz Manequinho permeia Como ninguém é capaz Sem nenhum alarde